sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A arte de viver da arte.


Queridos amigos,

É com alegria que divido com vocês, parte de um texto muito bom, que encontrei no Scribd, entitulado:

A ARTE DE VIVER DA ARTE
Manual para a autogestão de artistas plásticos
De Felipe Ehrenberg

Fiz um resumo de algumas colocações do autor e espero que seja tão útil a vocês como está sendo para mim.

Com o carinho de sempre,
Lilian



“A profissão de artista é uma atividade tão necessária para a sobrevivência física e espiritual dos indivíduos, como os mil e um ofícios e profissões que permitem à humanidade florescer.  
Todo mundo precisa da arte e qualquer um que se proponha a isso, pode sem um só espaço para dúvidas, viver exclusivamente de sua produção artística.”

Este ofício é profundo e maravilhoso e requer muitos anos, às vezes a vida toda, para que se possa exercê-lo em plenitude. Antes de entrar no assunto, pedirei que recorram à imaginação e se coloquem a si mesmos sob uma lupa com o propósito de descartar aqueles preconceitos que tantos danos trazem à nossa profissão.

Existem alguns mitos que enaltecem, como os dos médicos abnegados ou o dos capitães que afundam com seu barco. Mas quase sem exceção, os mitos que rodeiam os artistas há uns cem anos, quando muito, nos envilecem. Para ser artista – se diz – é preciso “nascer com talento” e “esperar que as musas nos inspirem”, e enquanto isso não acontece, devemos nos vestir de maneira esdrúxula, beber e ter hábitos nada saudáveis. Os artistas – arremata o mito – são valorizados depois de morrer!

Seria difícil listar as falácias que continuam tecendo ao redor do nosso maravilhoso labor. O ruim é que, apesar de suspeitarem do contrário, muitos artistas preferem a mentira, é tão romântica! O pior é que há entre nós aqueles que vestem essa carapuça e decidem, para sua desgraça, viver a farsa. Quanta gente com talento não almeja ser artista? E desses, quantos jamais conseguiram alcançá-lo?
Entre as falácias que se deve destacar de imediato, está a crença que se não nos dão atenção é porque “ninguém nos entende”, ou pior ainda, a que alimenta a esperança de que algum dia “seremos descobertos”. Pensar assim só nos conduz a definhar no esquecimento.

Certamente para ser artista profissional se requer muito mais do que saber desenhar, modelar massinha ou pintar a óleo; é igualmente importante divulgar nosso trabalho e, sobretudo, cobrar o justo. Para viver da arte, nós artistas devemos organizar nossas vidas de modo que tenhamos os tempos requeridos para criar, por um lado;  e por outro, para administrar a nossa produção.

Não estamos sós

Muitos aspirantes a artista ignoram os meandros da profissão e desconhecem o âmbito em que exercemos nossa atividade: um mundo farto, complexo e labiríntico. Não sabem que para funcionarmos como se deve, dependemos de uma ampla rede de apoios proporcionados por um universo de pessoas especializadas e estão, em primeira instância: os colegas de grêmio e uma surpreendente variedade de associações que criamos (algumas importantes e influentes); também nos apoiam nossos provedores e produtores, homens e mulheres especializados em mil e uma tarefas que nos proporcionam todo o necessário para realizarmos nosso trabalho; existem representantes e galeristas (duas ocupações muito diferentes) que são os principais encarregados de distribuir nossa obra; os curadores, críticos e historiadores que localizam nossa produção e lhe dão contexto; os empregados e funcionários de museus e instituições públicas e privadas; as pessoas que trabalham na imprensa e nos meios de comunicação de massa, e claro, os colecionadores e toda a variedade de clientes, que são os principais – mas não são os únicos – destinatários de nossa produção.

Paralelamente à criação de nossa obra, temos a obrigação de tratar com empregados, assistentes e sub-contratados, realizar trâmites burocráticos de todo tipo, elaborar orçamentos e cumprir compromissos com seriedade, dirigir nossas finanças e contas bancárias, manter correspondência com terceiros, zelar por nossos direitos autorais e lidar com o fisco (pagar ou não pagar impostos, eis a questão...).

Para conseguir tudo isso, devemos fotografar a obra que estamos produzindo e inventariá-la (é necessário saber com precisão tudo o que temos armazenado), redigir currículos especializados, montar portfólios para nos promover e estabelecer contatos privados e institucionais (tanto em nosso país como no exterior).

Ao longo da vida profissional é necessário empacotar, assegurar e exportar as obras, tratar com intermediários e funcionários e conhecer a diferença entre empréstimos, subsídios e mecenatos. Deve-se saber decidir quando vender diretamente e quando fazê-lo através de terceiros, se vamos dar aulas ou vender cachorro-quente, se queremos ser empregados ou atuar de modo independente. Devemos inclusive saber como formar uma coleção própria. Todo um labirinto de
atividades e opções!

Os que sabem disso são os artistas que operam de maneira profissional. Alguns se apercebem da realidade no início da carreira. Outros vão aprendendo pelo caminho, lentamente; mas todos sabem que para desenvolver-se em plenitude é necessário administrar-se de maneira cuidadosa:

Os artistas que prosperam são os que têm o coração na arte e os pés na terra!

Quem não se dá conta da realidade à tempo,  acaba ganhando um salário como funcionário de algum trabalho, geralmente como professor ou empregado menor. Tornando-se melancólicos porque lhes parece que sua obra “não atinge o público”.

Há aqueles que se conformam em trabalhar de dia e criar à noite. Os sonhos se desvanecem e muitos caem abatidos pelo caminho. Quem insiste em produzir sem se profissionalizar, vão se amargurando porque não lhes chega o reconhecimento; produzem cada vez menos e vendem pouco ou nada. Em sua frustração, se reduzem a falar mal de seus colegas e do próximo e, como conseqüência, degradam a profissão.

Aqueles de nós que conseguem ver como nossas obras comovem quando as compartilhamos, são os que praticam o ofício milenar com o respeito que exige a disciplina: somos os que criam para logo fazer a entrega pontual de nossas criações. Só assim se pode operar o verdadeiro mistério da arte, o da interlocução, através do qual, nós artistas, contribuímos no imaginário de nossa geração.

Se nossa obra é significativa aos olhos do próximo, pode chegar a transcender. Se corrermos, com sorte,  nos destacaremos em vida, mas, ainda que a fama ajude, não é o que importa:  
se é artista para cumprir uma função vital.

Fonte: www.scribd.com

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