quinta-feira, 30 de junho de 2011

A escultura - breve história.

Magia, religião, beleza, desafio, educação, perfeição, realidade, protesto e imaginação. Todas essas palavras conceituaram a arte em algum momento de sua história. A mudança desses conceitos e idéias desde a Pré-história é que irão delinear todo o movimento da arte até os nossos dias. Uma história de constante sobreposição de conceitos e idéias geradoras de imagens.


A ESCULTURA AMULETO
Imagem e realidade para os homens das cavernas não eram conceitos opostos, estabelecia-se assim uma relação mágica com a imagem, ou seja, sem nenhuma intenção decorativa, a arte, em uma época em que esse conceito nem existia, tinha uma função muito específica: a magia. Havia uma correlação entre a realidade e a imagem, portanto os desenhos feitos serviam como garantia de que aquele fato representado se tornaria realidade. Dessa forma a escultura inicia seu percurso na história da arte: a Vênus de Willendorf, uma pequena estatueta representando o corpo feminino com seios enormes e ventre abundante simbolizava a fertilidade da mulher, uma escultura-amuleto, garantindo com aquela imagem a procriação.
Vênus de Willendorf.

O ABRIGO DA ALMA
Os homens resolveram cultivar a terra, organizaram-se em tribos, se desenvolveram economicamente, dividiram-se em classes sociais e formaram um Estado para administrar essa sociedade civilizada. O Egito foi uma das grandes civilizações surgidas na Idade Antiga. A arte para os egípcios girava em torno da figura divina do Faraó e da crença na vida depois da morte. As pirâmides eram construídas para ajudar o faraó em sua volta para os deuses e as múmias eram feitas para preservação do corpo, pois eles acreditavam que a alma precisaria daquele mesmo corpo para continuar vivendo. Uma nova função para a escultura: abrigar a alma do Faraó, pois as estátuas produzidas nessa época serviam para substituir o corpo decomposto ou ainda representar os escravos e servos do Faraó que inicialmente eram enterrados vivos nas tumbas. As esculturas eram produzidas de acordo com regras rígidas estabelecidas, onde o que importava não era a beleza, mas a clareza, ou seja, as figuras tinham que ser representadas em seu melhor ângulo. Por esse motivo, grande parte das esculturas egípcias era rígida e estática.

O MOVIMENTO PERFEITO
A escultura ganha movimento na arte grega, pois em contato com civilização egípcia, os gregos produziram suas imagens a partir do ponto de desenvolvimento no qual eles chegaram. Mas, a Grécia não era constituída de um Estado unificado, era composta de várias cidades-Estado e na religião não havia uma figura tão poderosa como o Faraó. Esses fatores contribuíram para que os gregos produzissem suas esculturas com menos rigidez do que os egípcios. Os gregos passaram a seguir os olhos e não mais as regras. O incentivo à experimentação fez com que a estatuária grega atingisse um alto grau de desenvolvimento. As formas naturais e perfeitas de suas esculturas tinham como função representar seus deuses e adornar seus templos.

A ESCULTURA MILITAR
A Grécia é dominada pelo poderoso Império Romano. Eles se apropriaram do território grego, de seus deuses e de sua arte. Mas, os romanos eram povos mais práticos que os gregos, por esse motivo a escultura sofreu, nas mãos desses poderosos conquistadores, uma nova mudança: no lugar de deuses, imperadores, no lugar das estórias do Olimpo, a escultura representa agora a história dos homens, de seus imperadores e suas conquistas. Uma outra mudança formal observada na escultura romana diz respeito aos seus retratos que passaram a ser mais realistas, menos idealizados e com o interesse voltado mais para a expressão facial, ao contrário dos gregos que se preocupavam mais com os movimentos do corpo.

O DESAPARECIMENTO DA ESCULTURA
Idade Média: um mundo fragmentado por batalhas, invasões e feudos fortificados. Em meio a essa desorganização, a igreja católica era a única identidade institucional existente, exercendo um papel de unificação social. A utilização de imagens foi um dos primeiros problemas a ser enfrentado pela igreja cristã na época de seu surgimento. Como forma de difusão da fé católica a igreja utilizou a arte como instrumento de informação e difusão de suas idéias. Mas, temendo uma associação com as religiões pagãs, as autoridades eclesiásticas raramente autorizavam a produção de esculturas, sendo o mosaico a expressão artística mais utilizada. Com o tempo esses conceitos iniciais foram se modificando e a escultura volta a perfeição, harmonia e a expressividade dos gregos, mas com um novo objetivo: contar a história de cristo.

O RENASCIMENTO DA ESCULTURA
Com o surgimento das cidades, a intensificação do comércio e a formação das primeiras monarquias nacionais a sociedade feudal entra em declínio, fazendo surgir uma nova classe social : a burguesia. Essa mudança cria uma nova mentalidade em todas as áreas: política, econômica, artística e social. O homem volta seu interesse para si próprio. Passou a explicar o mundo através da razão e da ciência e não mais pela fé. O estudo da anatomia humana era objeto de estudos intensos nos ateliers de artistas consagrados como Andrea del Verrochio e Michelângelo. Sendo assim, a escultura atinge nessa época seu ápice: perfeição, clareza, equilíbrio e harmonia.

O BARROCO: A ESCULTURA EM BUSCA DE ALGO NOVO
Trabalhando para a Igreja e para os reis, a classe artística ganha efetivamente respeito e fama. Mas, por volta do século XVI, ocorre uma crise na arte, mudando, mais uma vez, a forma de representação artística. A arte atingiu a perfeição e agora nada mais resta a fazer, a não ser copiar o que já havia sido feito. Foi nessa tentativa de buscar algo além da perfeição que surge um movimento artístico conhecido como Barroco. Cansados da razão, da harmonia e da clareza renascentista, as esculturas produzidas se voltam para a emoção, a imaginação e a tensão. Os gestos harmônicos são substituídos por gestos inesperados e fora do comum. O escultor Bernini e sua obra "O êxtase de Santa Teresa" representam o dinamismo e o movimento dramático da escultura barroca.

A ESCULTURA NO SÉCULO XIX
A rapidez do mundo industrializado influenciou toda a arte desse século. Muito mais rápidos, os movimentos artísticos oscilaram entre uma volta à clareza e a razão - com o neoclássico - e uma busca por paixão, violência e movimento por artistas românticos. A descoberta da fotografia libera o artista da incessante busca do real, despertando a criação de formas mais livres de representação. Mas a escultura se encontrava estagnada, voltada unicamente para a produção de monumentos públicos decorativos em estilo acadêmico. Lutando contra todos esses valores passados, surge no cenário artístico um dos primeiros escultores modernos: Rodin. O naturalismo de suas esculturas, feitas a partir de modelos não convencionais como dançarinas e pessoas de sua família, incomodava os críticos da época da mesma forma que os artistas impressionistas. Sua marca registrada foi aliar o virtuosismo técnico ao seu espírito inovador que simplificava, distorcia as imagens produzidas e muitas vezes deixava a marca e textura do próprio material utilizado, ou seja , a pedra. Rodin criava assim um aspecto inacabado em suas obras que instigava a imaginação do observador e mais ainda, modificará toda a forma de pensar da escultura no século XX.

A ESCULTURA NO SÉCULO XX
A onda anti-realista que acontece na pintura com os movimentos de vanguarda, atinge também a escultura que ganha forma nas obras do escultor romeno Constantini Brancusi. Considerado o maior escultor modernista, Brancusi queria obter com suas imagens o contrário de Michelângelo. Enquanto o escultor renascentista queria revelar as formas que segundo ele estavam presas na pedra, o escultor moderno tinha outro objetivo: dar vida e movimento e ao mesmo tempo preservar as características da pedra. A sua obra "O beijo" de 1907, ilustra bem essa fase que aos poucos foi se modificando. Brancusi produzia cada vez mais com menos detalhes, chegando a total abstração, como é o caso de sua obra "Pássaro no espaço" de 1927.
Depois de simplificada a escultura ganhará movimento no Futurismo. Reflexo da velocidade do mundo industrial, as esculturas de Boccioni ganham "linhas de força" e parecem estar sempre caminhando para frente, sem olhar para a história ou para as imagens estagnadas do passado. As esculturas produzidas no pós-guerra sofrem algumas modificações: trabalham com novos materiais como sucata de metal, novas técnicas como a solda e novas formas como colagens e móbiles. A abstração ainda é dominante, mas com uma carga grande de experimentação. O grande destaque dessa época é o inglês Henry Moore. Seguindo o biomorfismo dos surrealistas, Moore trabalhava suas peças a partir da observação da natureza e de objetos históricos antigos como dos sumérios e pré-colombianos. O americano Alexander Calder vai literalmente colocar movimento na escultura, seus móbiles irão fazer com que a escultura flutue no espaço. Essas tendências abstracionistas também foram a base do Suprematismo e do Construtivismo que pregavam a arte abstrata, geométrica e uso de materiais industriais, conectando arte, ciência e tecnologia.
No Brasil, as idéias desses movimentos estão presentes nas neovanguardas dos anos 50 e 60, nos movimentos do Concretismo e do Neoconcretismo. Entre os ícones representativos dessas vanguardas temos Waldemar Cordeiro, Lygia Clark, Amilcar de Castro, Franz Weissman e Ivan Serpa. A arte Concreta surgiu no momento histórico pós-Segunda Guerra Mundial, período identificado pelo otimismo e pela euforia gerados por uma volta a paz. O país passava por um período de grandes promessas de desenvolvimento.
Nesse mesmo período é criado o Masp (1947) e o MAM (1948), em São Paulo e no Rio de Janeiro outro MAM (1949). Seus fundadores estavam interessados pela nova arte abstrata, por isso em 1951, Ciccilio Matarazzo, fundador do MAM de São Paulo, organizou a Primeira Bienal de São Paulo, sob os moldes da Bienal de Veneza. O principal artista a expor na Bienal foi Max Bill, com sua escultura Unidade Tripartida, uma fita de aço contínua em que todos os pontos se unem. Essa obra tornou-se um símbolo da evolução da arte abstrata.
O resultado do crescimento da arte abstrata no Brasil foi marcante e, já no início dos anos 50, surgem em São Paulo e no Rio de Janeiro, movimentos de arte concreta e pós-concreta que resultaram numa arte de alto nível, estabelecendo-se como referência a um dos momentos mais maduros e significativos da arte no país.
O concretismo é a promessa da construção do novo. Prega uma arte democrática, acessível a todos em sua simplicidade e objetividade. Esse movimento acredita também em uma linguagem universal, livre de contextos específicos e de um excesso de subjetividade e emotividade. Mas, essas idéias foram aos poucos sendo contestadas e surgiu no Rio de Janeiro um grupo dissidente. O grupo carioca, criticava o excesso do racionalismo teórico dos paulistas e considerava que a abstração geométrica poderia ter corpo e alma. Esse grupo ficou conhecido também como Neoconcreto.

AS TÉCNICAS
As primeiras esculturas são predominantemente de pedra, argila e madeira. A técnica inicial da pedra lascada instigou o homem a criar alternativas, ao longo da história, para aperfeiçoar a elaboração de suas peças: num primeiro momento através da abrasão da areia e mais tarde através da criação de peças em cobre, bronze e ferro. Trataremos aqui, brevemente, de algumas das técnicas da escultura.

MODELAGEM
Na modelagem, as mãos do artista são o principal instrumento e os materiais mais comuns são a argila, a cera e o gesso. A modelagem nesses materiais é muito utilizada como um meio auxiliar do escultor para estudos prévios ou como base para as técnicas do vazado em metal, cimento ou plástico.
Para a modelagem em argila, o material é trabalhado ainda úmido e, dependendo da escala do objeto a ser modelado, pode ser fixado sobre suportes de madeira, arame, borracha, cortiça ou qualquer outro material não absorvente. No caso em que a própria argila é o material final para a realização da escultura, se utilizam as técnicas cerâmicas de cozimento. Essa técnica era utilizada por muitas culturas antigas – tais como a Suméria e a Chinesa – na elaboração de esculturas de Terracota (terra cozida).

TALHA EM MADEIRA
Considerada arte menor, a escultura em madeira oferece um desafio maior ao escultor para dar o naturalismo desejado à figuração, devido ao veios e nós da madeira e à precisão que deve ser trabalhada. Com isso, o uso do policromado (técnica de pintura à têmpera sobre base de gesso, aplicada na escultura em madeira) condicionou de forma decisiva a evolução da escultura em madeira. Essa técnica foi muito utilizada no Barroco brasileiro na confecção do imaginário (santos do pau oco). A técnica da talha consiste no desgaste de um tronco de madeira através do uso de instrumentos como o cinzel, serras, foices, machados, isovela e brocas. Geralmente, a madeira é trabalhada a partir de um único tronco que tem seu interior esvaziado para evitar problemas com a umidade. No acabamento final, a peça é lixada e polida.

LAVRADO EM PEDRA
A técnica, considerada nobre, consiste em desgastar um bloco de pedra com uso de cinzéis, martelos, pontas, bouchardes , puas, furadeiras e abrasivos. Na escultura em pedra os erros são irreparáveis e, para garantir o sucesso da sua confecção, se deve fazer um esboço em argila, gesso ou cera, com posterior maquete, que passará para o bloco de pedra através de um sistema chamado “ponteado”.

VAZADO EM BRONZE
Nessa técnica, o uso passa a ser industrial e não é mais só a mão do artista que dá origem às formas. É preciso criar moldes e a figura vai nascer do interior do molde, com a fundição do cobre em conjunto com o estanho, o zinco e o aço, em quantidades exatas, para se criar a liga apropriada de bronze. A fluidez dessa liga é o que dará características próprias a cada escultura.
O vazado em bronze, para esculturas tridimensionais pode ser feito de três formas: a fundição à cera perdida, o modelado e a galvanotipia.
A técnica da cera perdida consiste em construir um modelo em cera que é coberto por um molde de argila de uma única peça; depois, a cera é derretida e o espaço é preenchido com o bronze. A partir desse método, conhecido como direto, são realizadas peças maciças de menor porte.
O método indireto consiste em modelar em barro a figura e, a partir daí, criar um molde em gesso dividido em várias peças. O interior do molde em gesso é recoberto por uma fina camada de cera e o vazio preenchido por terra. Após essa etapa, desmonta-se o molde de gesso, que deixa descoberto o modelo de cera para ser retocado. Cobre-se então a peça com a argila – mantendo-se um sistema de canais de coado e respiradouros – que servirá de molde definitivo. O bronze então vertido, substitui a cera. Esse método permite que a peça tenha uma espessura variável e é utilizado na confecção de esculturas de grande porte.
A galvanotipia consiste no depósito de uma fina camada de metal sobre um molde em negativo através da eletrólise que, em linhas gerais, é uma transferência química das partículas de metal para o molde. A operação se efetua dentro de um composto condutor de eletricidade onde são mergulhados 2 condutores – um negativo (o molde que se quer cobrir) e um positivo (uma solução do próprio metal que vai cobrir o molde).


AS TÉCNICAS ATUAIS 

Na arte moderna o objetivo não é mais o naturalismo e, com isso, a escultura ganhou novas formas de expressão, possibilitando a pesquisa de novos materiais e o emprego diferenciado das técnicas tradicionais.
Uma descoberta inovadora foi a aplicação do concreto na escultura – uma mistura de cimento, areia e áridos (pó de pedra ou partículas de granito ou mármore, que proporcionam diferentes texturas ao concreto). O concreto pode ser trabalhado na modelagem ou nos vazados. Na modelagem o processo é semelhante àquele da argila, a diferença é a armação que deve se adequar ao peso e à forma da escultura. Os vazados são realizados com moldes de gesso, madeira ou formas, que recebem a massa homogeneizada e depois são cobertos com sacos molhados até que a peça endureça.
Na escultura em metal a evolução foi marcante após a Revolução Industrial. Os artistas passaram a utilizar diversos tipos de materiais: chapas de ferro, pregos, arames, chapas de aço, lata, latão, alumínio, ferro-velho, tubulações e até automóveis prensados. Tudo isso obriga a utilização de ferramentas industriais – soldagem, maçarico, rebitadoras, brocas elétricas, máquinas para corte e dobradura do metal. O artista pode pintar, disfarçar soldas, polir e oxidar suas peças em metal.
Outros materiais, como os plásticos e a celulose, foram utilizados inicialmente na escultura pelos Construtivistas, a partir da década de 20. Ainda hoje, os materiais plásticos, acrílicos e sintéticos constituem base de pesquisa de muitos artistas contemporâneos, coordenando-os com outros materiais ou simplesmente utilizando-se da sua plasticidade e textura.
A arte contemporânea oferece tal liberdade ao escultor na escolha das técnicas, que a própria técnica se confunde com o objeto artístico: a escultura hoje se utiliza de meios mecânicos, eletromagnéticos, fenômenos naturais e da própria estrutura física do ambiente onde a obra será instalada.


Fonte:  http://www.cccv.org.br/galeria/vilar/escultura.htm

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