quarta-feira, 6 de junho de 2012

Curiosidades da história da arte brasileira.

Olá amigos,

Estou lendo um livro de Raul Bopp, entitulado: Movimentos Modernistas no Brasil - 1922-1928 e como estou gostando muito, resolvi, transcrever um trecho que conta como foi concebida a Antropofagia de Oswald de Andrade.  

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"Restaurante das rãs

Uma noite, Tarsila e Oswald resolveram levar o grupo que frequentava o solar a um restaurante situado nas bandas de Santa Ana. Especialidade: rãs.
O garçom veio tomar nota dos pedidos. Uns queriam rãs. Outros não queriam. Preferiam escalopini...

Quando, entre aplausos, chegou um vasto prato com  a esperada iguaria, Oswald levantou-se e começou a fazer o elogio da rã, explicando, com uma alta percentagem de burla, a teoria da evolução das espécies. Citou autores imaginários, os ovistas holandeses, a teoria dos "homúnculos", os espermatistas etc, para "provar" que a linha da evolução biológica do homem, na sua longa fase pré-antropóide, passava pela rã - essa mesma rã que estavam saboreando entre goles de Chablis gelado.
Tarsila interveio:
_ Em resumo, isso significa que, teoricamente, deglutindo rãs, somos uns... quase antropófagos.

A tese, com forte tempero de blague, tomou amplitude. Deu lugar a um jogo divertido de idéias. Citou-se logo o velho Hans Staden e outros clássicos da Antropofagia:
_ Lá vem a nossa comida pulando.

A Antropofagia era diferente dos outros menus. Oswald, no seu malabarismo de idéias e palavras, proclamou:
_ Tupy or not tupy, that's the question.

Alguns dias mais tarde, o mesmo grupo do restaurante das rãs reuniu-se no palacete da alameda Barão de Piracicaba, para o batismo de um quadro pintado por Tarsila: o Antropófago. Nessa ocasião, depois de passar em revista a parca safra literária, posterior à Semana, Oswald propôs desencadear um movimento de reação, genuinamente brasileiro. Redigiu um "Manifesto". O plano de "derrubada" tomou corpo. A flecha antropofágica indicava outra direção. Conduzia a um Brasil mais profundo, de valores indecifrados."
Fonte: Movimentos Modernistas no Brasil - 1922-1928, páginas 89, 90 e 91.

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Acrescento aqui, mais um trecho que encontrei no site do Itaú Cultural, sobre esse exato momento do batismo do quadro de Tarsila (Abaporu) e a decisão de criar um novo movimento:

"Enquanto contemplava aquele estranho homem pintado por Tarsila, de pés enormes fincados na terra, cuja pequena cabeça parece apoiar-se melancolicamente em uma das mãos, cercado por um ambiente seco e quente, tendo como testemunha apenas o céu azul, o sol e um misterioso cacto verde, Oswald de Andrade foi indagado por seu amigo e escritor Raul Bopp (1898 - 1984), que o acompanhava na observação: "Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?". Abaporu, 1928, que em tupi-guarani significa "antropófago", foi o nome escolhido para aquela figura selvagem e solitária."

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